sábado, 15 de agosto de 2009

ENTREVISTA - JOÃO BATISTA DE MOURA - CHOPP IJUHY





João Batista de Moura é sócio administrador da Chopp Ijuhy. Embora inicialmente não fosse sócio da empresa, João está envolvido com ela desde sua fundação em 01 de março de 2006, pois uns dos sócios fundadores é seu pai, o advogado Walter Joel de Moura. Em junho de 2007, quando Rogério Kuhn, o outro fundador da empresa se retirou, João Batista de Moura ingressou na sociedade, tornando a cervejaria uma empresa familiar.

A cervejaria está localizada em Ijuí, cidade do noroeste do Rio Grande do Sul e hoje, após 3 anos de atividade, a cervejaria está em uma ótima fase do projeto.O produto tem excelente qualidade, a marca está consolidada, toda a produção é absorvida pelo mercado e o empresário tem todos os motivos para estar satisfeito.

Uma curiosidade interessante é que o nome da cervejaria é a antiga grafia, até a década de 1940, do nome da cidade em Tupi Guarani - Ijuhy, e significa"rio das águas divinas".

Adorei! Foi uma grande sacada, pois além de conter algo cultural e tradicional, homenagiando a cidade, o significado do nome só pode trazer uma coisa : sorte. Existe um presságio melhor para uma cervejaria do que ser batizada como "um rio de águas divinas"?

Confira abaixo o papo com o João, que além de tudo é um cara super simpático e bem humorado.








Quais os tipos de chopp produzidos atualmente?

Atualmente estamos produzindo e comercializando 3 tipos de chopp, sendo: chopp tipo Pilsen cristal (filtrado), chopp tipo Pilsen natural (não filtrado) e um chopp escuro tipo Malzbier que é sazonal, feito apenas nos meses de inverno.



Qual é o segredo do sucesso do chopp Ijuhy?

ão tem mistério, o segredo é o cuidado em todas etapas. O processo de “fabricação” do Chopp Ijuhy inicia com uma criteriosa escolha da Matéria Prima a ser utilizada no processo fabril, pois acreditamos que a qualidade do produto final depende da qualidade dos ingredientes utilizados.

A busca constante da qualidade, durante as várias etapas de produção, ao final, acaba agregando um valor maior ao produto, em sabor, aparência, drinkability e aceitação por parte do nosso consumidor.


O chopp é elaborado com algum conservante?

O Chopp Ijuhy é elaborado em conformidade com a “Lei de Pureza” (Reinheitsgebot, instituído na Bavieira em 1516) que determina a utilização apenas de água, malte, levedura e lúpulo, na elaboração de chopp/cerveja.


Em conformidade com a Lei de Pureza, não utilizamos qualquer tipo de adjunto como: cereais não maltados, high maltose e quaisquer conservantes químicos ou anti-oxidantes.


De onde vem a matéria prima?

Nossos fornecedores de malte são: Cooperativa Agrária Agromalte de Guarapuava, PR e Cargill, da Argentina.


O lúpulo é importado da Alemanha, mais precisamente da região de Hallertauer, o que nos garante excelência na qualidade de alfa ácidos amargos e aromáticos.


O levedo cervejeiro é produzido pelos laboratórios da “Fermentis” francesa, que nos assegura um padrão de uniformidade e qualidade impar.


De onde vem a água cervejeira e como a empresa se certifica da sua pureza?

A água é captada de poço artesiano, localizado no pátio da cervejaria.

As análises físico-quimica e microbiológica são realizadas mensalmente pelos laboratórios da nossa Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI) e a cada teste ficamos mais satisfeitos, pois sempre é atestada a incrível pureza desta água.

Assim, toda água cervejeira utilizada, face a sua pureza, não recebe nenhum tratamento adicional, exceto aquecimento de esterilização, antes de sua utilização no processo fabril.






Percebi que o interior da cervejaria é muito limpo não havendo sequer odores, o que é incomum. Como é possível conseguir esse nível de assepsia?


O processo ocorre dentro de um sistema semi-automatizado, composto de equipamentos modernos construídos em aço inox, com soldas sanitárias, possibilitando um sistema CIP eficiente dentro dos padrões exigidos de assepsia, o que nos permite obter um produto bastante uniforme e sem grandes variações de uma batelada para a outra.

Além disso, o mestre cervejeiro Martinho Gunha Kuck, profissional com mais de 30 anos de experiência na atividade tem uma preocupação especial com a higiene, sendo muito rigoroso quanto aos padrões operacionais e programas de qualidade.


Assim, toda a equipe de colaboradores tem participado de todos os cursos, palestras e eventos relacionados ao assunto que ocorrem na cidade, no intuito de aperfeiçoamento pessoal e profissional.


A empresa participa de algum programa de certificação de qualidade?

O trabalho, em todas as etapas, segue padrões de qualidade total, utilizando as cinco dimensões da qualidade. Trabalhamos dentro de uma criteriosa programação de produção, visando ter um produto sempre em perfeitas condições.

Possuímos, também um engenheiro químico responsável, nossos produtos tem registro no Ministério da Agricultura e a marca “CHOPP IJUHY” já esta patenteada e regionalmente consolidada.


Como a empresa encara a questão da responsabilidade sócio ambiental? Quais são suas atitudes auto-sustentáveis, como a empresa se livra dos tipos de resíduos?

Como não poderia deixar de ser Chopp Ijuhy tem uma preocupação muito grande em relação a preservação do meio ambiente e dentro dessa idéia adotamos medidas e políticas ecologicamente desejáveis.


O bagaço de malte é integralmente recolhido em recipientes plásticos reutilizáveis e encaminhado para consumo como ração animal, sendo inclusive, muito disputado pelos pequenos agricultores da região, que retiram o bagaço de malte, muito nutritivo, e o utilizam como complemento na alimentação de vacas leiteiras e criatório de peixes.


Já a terra diatomácea, utilizada na filtração de chopp é toda recolhida em embalagens próprias e encaminhada para ser adicionada em adubos orgânicos.


Medidas simples e fáceis de aplicar têm colaborado muito com a preservação do meio ambiente, redução do DBO, além de auxiliar na agricultura familiar da região, diminuindo o custo nas lavouras.




Quais são as metas da empresa para o futuro?

Estamos planejando dobrar a produção no curto prazo. Hoje produzimos 20,000Lt por mês e em breve passaremos para 40,000Lt por mês e mais adiante passaremos para 80,000Lt por mês atingindo a capacidade total de produção de nossa planta .






Quais são tuas principais preocupações com a empresa hoje?

Uma das maiores preocupações sem dúvida é a questão tributária, é um absurdo que uma micro cervejaria pene com 50% de sua receita em impostos, exatamente o mesmo que uma grande cervejaria paga. Esta alta carga tributária impossibilita nosso crescimento e até ameaça a sobrevivência das microcervejarias em todo o país.

Outra questão é o preço das matérias primas, pois para manter o alto nível de qualidade, só utilizamos produtos selecionados, o que encarece o custo de produção.


Que atitudes estão sendo tomadas para tentar solucionar essas questões?

Aqui no RS foi criada a AGM - Associação Gaúcha de Micro Cervejarias.
Ela foi fundada com o objetivo principal de nos unirmos para pleitear junto aos governos Federal e Estadual uma redução de impostos, pois se isso não acontecer vai comprometer seriamente o futuro das micro cervejarias.

Além disso a associação tem outros projetos, como a rota da cerveja no RS para incrementar o turismo no estado.


Outro projeto importante é a criação de uma central de compras para reduzir o custo de nossos equipamentos e matéria prima. A AGM veio em uma hora oportuna por que todas as micro cervejarias, passam pelos mesmo problemas e unidas, com muito mais força, vai ser possível buscar soluções concretas.


Com a criação dessa central de compras podemos esperar uma diminuição no preço do produto final?

Talvez, mas como falei temos que resolver essa questão tributária, por que esse sim é o principal fator de encarecimento, já que somos obrigados a repassar ao preço final.


Como é possível que o governo não esteja sensível às diferenças entre micro e mega cervejarias tratando da mesma forma realidades tão diversas?

É realmente um contra-senso. Nunca se falou tanto em cervejas especiais como em 2008 e 2009, é uma novidade que vem ganhando cada vez mais adeptos, tanto para consumidores como fabricantes e assim, o número de micros vem crescendo em todo o Pais, gerando empregos e movimentando a economia local dos municípios.


Entretanto, para ter uma idéia do mercado, somando a venda de todas as micro, não chega nem perto de 1% de vendas das grandes industrias.

As cervejas especiais ainda não atingem um volume significativo de vendas e dessa forma há espaço para um grande crescimento, por isso vejo um futuro muito promissor para as micro, mas no momento que tivermos uma redução significativa de impostos, do contrário não será possível aproveitar o bom momento.


Que surpresas podemos esperar daqui pra frente? A Chopp Ijuhy pretende aumentar sua linha de produtos?

Por enquanto não, mas por causa do clamor da clientela - principalmente a feminina - estamos pensando em tornar a produção do tipo malzbier permanente.
Também estamos estudando a possibilidade de comercializar as garrafas de cerâmica em alguns pontos em em Porto Alegre, mas é apenas um desejo por enquanto.









Mestre Cervejeiro Responsável:

Martinho Gunha Kuck, profissional com mais de 30 anos de experiência na atividade.
Iniciou seu trabalho na área de bebidas em outubro de 1978 na filial Continental, unidade da Brahma em Porto Alegre-RS, exercendo sua atividade em várias filiais da Brahma, até novembro de 1998, quando se aposentou, como cervejeiro.
Iniciou o curso de cervejeiro em 1978 na Brahma como estagiário, concluindo o curso em 1984 em Curitiba PR.
Durante o período, trabalhou em todas as áreas fabris tendo larga experiência em matéria prima, brassagem, fermentação, maturação, filtragem, envasamento e utilidades, atuando também na área de refrigerantes e Auditoria Fabril, bem como na implantação de padrões operacionais e programas de qualidade.
Após, passou a prestar serviço às micro cervejarias em Santana do Livramento – RS e Tucunduva – RS e atualmente na Chopp Ijuhy.


No final do nosso papo o João me presenteou com uma garrafa preta lindíssima de 2 litros do Chopp natural com o rótulo gravado na própria cerâmica, coisa de colecionador mesmo e me mostrou o salão do bar anexo à fábrica.


O salão é aberto somente para festas e eventos contratados como formaturas e aniversários. A procura é enorme, tanto que não existe data para fazer reserva até depois do próximo verão. Ainda conversamos um pouquinho sobre uma situação peculiar que ele passa. Diz que é costume na região o cliente querer devolver dias depois o chopp que comprou e não foi utilizado, como se comprasse o barril consignado.


Pô galera, mal pra caramba!!! O chopp é um produto extremamente perecível e a Cervejaria tem um compromisso de qualidade com todos os seus clientes. Ninguém gostaria de comprar um barril que está sendo revendido. Vamos fazer melhor as contas dessas festas para não sobrar tanto e meu conselho é que sempre se compre algum barril de 10 litros, porque se sobrar, sobra menos.


Também conversei com o Martinho sobre o tipo Malzbier e perguntei se existe algum segredo na receita para não deixar o chopp enjoativo. Ele respondeu que sim, que o truque foi adicionar muito menos açucar do que a receita tradicional, e é claro que além disso existem alguns segredos que não dá pra contar...